sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fla Flu Centenário

   A briga ocorreu em um casarão antigo no bairro das Laranjeiras há muito tempo atrás, não se sabe exatamente o que foi dito na ocasião e até hoje dizem que o motivo foi à vaidade, a verdade é que os irmãos desde então se tornaram rivais e fazem questão de disputar com o outro o que é possível.
   Quem não conhece mais intimamente os dois, não diz que tem a mesma origem, são como a água e óleo, fazem questão de se colocarem em lados opostos quase sempre, embora algumas vezes quando conveniente tenham estado no mesmo lado (não admitem isso de bom grado em hipótese nenhuma).
   João permanece morando nessa casa até hoje, homem elegante de muitos admiradores, anda pela cidade com seu terno cortado, sapatos caros e aquele ar arrogante de quem se sente parte de uma aristocracia carioca que já não existe mais. Seus detratores o chamam de esnobe, elitista e para esses exibe um sorriso irônico aceitando que seja, mas em sua casa todos são bem vindo, com uma única condição, quem lá estiver tem que se sentir diferenciado assim como ele.
   Artur é exatamente o contrário, apesar de morar na Gávea desde a briga com seu irmão, gosta de ser popular, de fazer parte do povão, faz questão disso. Sua popularidade é evidente, aonde chega tem vários admiradores, suas festas são populares e não se importa nem um pouco quando alguém para tentar denegrir o chama de favelado, diz que o Rio de Janeiro não é só Ipanema e Copacabana, e ele detesta preconceito, gosta de ser se sentir o maior em tudo, diz com desdém que é o mais invejado, maior sucesso, mais admiradores.
   Os dois irmãos são antagônicos, durante décadas rivalizaram no Rio de Janeiro e levaram essa disputa para outros estados do Brasil e até países estrangeiros, onde um está o outro faz questão de desejar sinceramente seu fracasso sem o menor remorso. Como todos os vencedores não gostam de perder, mas a derrota de um para outro dói mais, é inadmissível e já fez muito estragos de lado a lado, enquanto as vitorias são contadas e relembradas sempre mesmo que algumas delas tenham ocorrido em décadas passadas.
   Um dia João se arruinou financeiramente e ficou muito doente, nas festas que Artur estava, João não era convidado, e para surpresa do irmão mais novo estava sentindo falta das disputas com o irmão mais velho, secretamente começou a desejar a melhora do desafeto do jeito que podia, simplesmente o ignorou, deixou de mandar indiretas na imprensa, de tentar prejudicá-lo, passou a dá atenção para outro rival. O tempo passou e a recuperação da enfermidade aconteceu, aos poucos se recuperando, foi convidado para a mesma festa e Artur foi cumprimentar João dizendo debochadamente que tinha sentido falta dele durante a sua doença, o adversário respondeu com aquela arrogância habitual que era medo o sentimento e tinha voltado mais forte ainda. Começaram a discutir, palavras pouco elogiáveis como “mulambo” “gay” “favelado” "esnobe” foram ditas e foi preciso a turma do “deixa disso” levar um para cada canto. Desde então, as disputas retornaram ao que era antes e o morador da Gávea lamenta publicamente que o seu irmão tenha adoecido e não morrido, embora no fundo do coração saiba que um depende do outro para serem gigantes.
  Domingo vão se encontrar de novo, ao menos nisso concordam, tinha que ser no Maracanã esse reencontro, lá é onde os dois foram mais felizes, mas não importa, a festa será bonita como os dois merecem, em lados opostos novamente, vão se xingar e dizer palavras politicamente incorretas, e se você perguntar nenhum dos dois irá falar do temor e respeito que um desperta no outro, por isso a rivalidade ainda existe, são cem anos de uma briga que dizem por aí, começou quarenta minutos antes do nada.

5 comentários:

  1. Belo texto Alan!

    Obrigado por publicar o que escrevi aqui, em seu Blog. Sinta-se, João, abraçado por um Arthur, preocupado desta vez, mas feliz por poder ter um João com uma tradição tão linda quanto sua camisa, a mais bela entre todas, a quem abraçar.
    Felicidades amanhã! (Seja lá qual for o resultado rsrsrs)

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  2. Abraço querido amigo, amanhã tem mais um clássico e eu pretendo está lá, tão preocupado quanto vc, nós sabemos que nesses jogos a técnica não importa muito, ouso dizer, as camisas jogam sozinha... Diria que vença o melhor, mas rivalidade não deixa, então deixo escapar "que o melhor seja o Fluminense".

    Abraço!

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    1. Fala Galera!!!

      rsrsrsr Nesse Fla-Flu estou com o Orlani, não quero que vença o melhor. Torcer pra argentino, pra paulista (imaginem como fiquei na Quarta) a favor do Dunga e contra o Mengão... não dá! Magal neles!!!!

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  3. Caramba, Alan!

    Que texto! Simplesmente emocionante, podia enviar para o time do Artur, sabe? Para ver se mexe um pouco com ele antes de entrar em campo. Vai ser muito sofrimento... No bolão que participo cravei 3x1...

    ...pro João!

    E que vença o pior!

    SRN

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    1. Obrigado Orlani... Deu o Flu em um jogo que não foi bom. Abração.

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